João José de Oliveira
Negrão
Os dados e as comparações são
impactantes: se fosse um país, a classe C brasileira, com 108
milhões de pessoas, seria a 12ª nação do mundo em população,
equivalente à Alemanha inteira ou duas vezes a Austrália. No
consumo comparado, a classe de renda que mais cresce no Brasil
estaria em 18º lugar, com um gasto calculado, em 2013, de 1,17
trilhão de reais. Os números são da pesquisa realizada pelo
instituto Data Popular em parceria com a Serasa Experian. De acordo
com o levantamento, sozinha, a classe C, que compreende os
brasileiros que têm renda individual entre 320 reais e 1.120 reais
por mês, consome mais que a Holanda ou a Suíça inteiras.
Além do que já foi consumido em 2013,
o levantamento também traçou o que a classe C pretende comprar
neste ano de 2014. Em primeiro lugar, estão as viagens nacionais,
seguida de aparelhos de TV, geladeiras e tablets. Mas algo muito
importante está acontecendo: os investimentos em educação também
aparecem entre os itens que deverão consumir boa parte desta renda.
Em outra pesquisa, o Data Popular já
tinha identificado que a Geração C, como foi apelidada a
juventude da classe C brasileira, está estudando mais que seus pais:
71% dos jovens desta classe estudaram mais que os seus pais. E os
próprios jovens (85% deles) acreditam que o diploma universitário
pode ajudá-los a melhorar de vida, além da influência dos pais,
que não querem que seus filhos estejam no subemprego. Isso fez com
que hoje, 60% dos estudantes universitários no Brasil sejam da
classe C.
Os números mostram que, mais do que o
consumo excessivo ou desenfreado – como quer fazer crer um certo
discurso conservador, como se aos mais pobres fosse vedado o direito
de consumir – os integrantes da classe C do Brasil sabem usar muito
bem os benefícios que o crescimento econômico aliado a políticas
de distribuição de renda tem trazido.
João José de Oliveira Negrão é
jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 26/2/2014)