quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Mundo mais desigual


João José de Oliveira Negrão

No último dia 29 de janeiro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento lançou relatório que mostra as tendências de crescimento econômico e concentração de riquezas no mundo. A situação é preocupante: nas duas últimas décadas, apesar de uma economia crescente, a desigualdade aumentou em cerca de 11% nos países em desenvolvimento. Um dado sintetiza isso: 1% dos mais ricos do planeta detém a posse de cerca de 40% dos bens globais. Enquanto que a metade mais pobre não chega a 1% da riqueza total acumulada.

Neste cenário, felizmente, o Brasil é um dos países que foi na contramão. Aqui houve redução da desigualdade. O Índice de Gini saiu de 0,542 e chegou, em 2010, a 0,459. Por este índice, quanto mais próximo de zero, maior é a igualdade; quanto mais perto de 1, maior a desigualdade. Outro dado que confirma esta tendência brasileira é a participação dos salários no PIB. Em 2003, era de 46,26%; em 2009, chegou a 51,40%.

De acordo com o relatório, a principal causa da redução das desigualdades (ainda grandes) no Brasil foi a política de elevação do salário mínimo. Entre 2003 e 2010 ele teve um aumento real (descontada a inflação) de 80%, o que teve um peso na redução da desigualdade de renda que foi o dobro do verificado com os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. O documento ainda destaca como fator positivo a questão política, com a criação de espaços que permitem maior participação da sociedade civil.
Já as chamadas políticas de ajuste, centradas na estabilidade de preços, em vez de puxar para o primeiro plano o crescimento e a criação de empregos, seriam piores, do ponto de vista da redução das desigualdades, segundo os analistas da ONU.


João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 06/02/2014)

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